Olá meus lindos!!
O especial Semana Grendon está quase acabando! Vamos até o dia 12. Hoje o autor nos liberou o primeiro capítulo do livro para degustação! Então vamos aproveitar!!
Um Escolhido
O sol já aparecia lindo e brilhante, como é de se esperar no mês de abril, quando um jovem garoto começou a lembrar-se de seu passado... Sua lembrança mais antiga era o orfanato em que morara. Era seu último dia lá, mas aquele garoto jovem, de apenas onze anos não sabia disso.
Ele estava sentado em um balanço que ficava no quintal do orfanato. Sozinho, olhava as outras crianças, todas menores que ele, divertindo-se no escorrego e no carrossel. O dia de fato estava muito bom. O sol brilhava forte, contudo as nuvens que estavam densas o estavam cobrindo naquele momento, o que deixou a temperatura agradável. O jovem menino olhou mais uma vez às crianças. Sentia que lhe faltava algo; talvez um amigo... Mas, todos que ele realmente gostava já haviam sido adotados há algum tempo... Os seus pais... Não, ele já não se importava com eles há tempo.
— David? — chamou uma mulher de quem ele não lembrava mais o nome, apenas sabia que trabalhava no orfanato.
— Sim?
— A Sra. Lúcia quer falar com você.
David a encarou por um instante. Não estava com um bom pressentimento.
Calado, o garoto acompanhou a mulher para dentro do orfanato. Atravessaram o quintal, subiram as escadas que levavam para a porta da cozinha e adentraram-na. Seguiram um corredor vazio, a não ser por fotos de outros ex-diretores e diretoras. A mulher o indicou a última porta do corredor e com receio, David entrou.
A Sra. Lúcia estava sentada por detrás de uma grande mesa de madeira marrom escuro. Seus olhos pequenos o fitaram com bondade. Seus rosto gordo estava com uma estranha expressão e ela segurava seu colar de pérolas entre os dedos com impaciência.
— Ah!... Olá, querido. David Cabral da Fonseca. — disse lendo uma ficha. — Vai fazer nove anos que você está aqui.
O garoto apenas balançou a cabeça afirmativamente.
— Ninguém se interessou em adotá-lo. — continuou a Sra. Lúcia. — e... não sei se você já sabe...
A conversa estava se dirigindo para o ponto que David não queria, então falou com medo:
— Não quero sair daqui!
A diretora o encarou mais uma vez com bondade.
— Sinto muito querido, mas não posso fazer mais nada. Só podem ficar aqui menores de dez anos e você já tem onze. Tem que ser transferido para um outro orfanato especializado em garotos da sua idade.
— Mas eu gosto daqui... Não quero sair...!
— Você espera pelos seus pais, não é?
— Sim. — mentiu com esperança que Lúcia se comovesse e o deixasse ficar.
— David, querido, faz tanto tempo. Desculpe-me em dizer, mas acredito que seus pais não virão nunca.
— ... — o jovem não soube o que dizer.
— Está decidido. Amanhã à tarde você será levado para outro orfanato.
David se levantou derrotado e se dirigiu para a porta. Quando seus dedos tocaram a maçaneta Lúcia falou:
— Sinto muito mesmo.
Com lágrimas nos olhos, David abriu a porta e saiu. Correu pelo corredor, voltou para o quintal e tornou-se a sentar no balanço.
Naquele momento, uma garota de quatro anos saia do quintal feliz, o casal que estava prestes a adotá-la havia chegado para visitá-la. David a viu abraçar o casal e sentiu inveja. Não queria saber de seus pais biológicos, se eles o abandonaram, era porque não gostavam dele e com o tempo o jovem criou em si o mesmo sentimento de repulsa. Porém, queria novos pais. O garoto ficou sentado por muito tempo. Até que decidiu sair dali.
Correndo, David atravessou a pequena distância entre o balanço e o muro e o saltou. Ele se viu em uma estrada de terra. Voltou a correr sem saber para onde ia até que cansou. Parou em uma praça onde as pessoas andavam para lá e para cá apressadas. Sem energia e sem saber para onde ir, dirigiu-se para uma pequena igreja e sentou-se à porta, desesperado.
David fechou os olhos, queria chorar, mas alguém o chamou. Ao abrir os olhos, viu em sua frente um homem muito alto com uma grande capa negra. Seu rosto estava oculto por um capuz.
— Garoto. — voltou a chamar.
— Sim?
O homem sentou-se ao seu lado.
— Sabia que você é o escolhido?
— Como? — o menino começou a ficar com medo.
— Você pode se transformar em um guerreiro!
— O que é isso?
— Como é o seu nome?
— D David.
— Tem um lugar onde você pode encontrar as respostas para sua pergunta. Pode até encontrar um novo lar, com pessoas como você que possam te entender!
Uma família nova? — pensou. Agora David se sentiu extremamente interessado e o medo se fora, não tinha mais para onde ir e não queria voltar para o orfanato. Na verdade, não sabia se seria capaz de refazer o caminho de volta.
Dessa forma, não foi difícil o homem misterioso o convencer a acompanhá-lo. Momentos depois se viu subindo um morro na companhia da pessoa encapuzada. Na metade do caminho, a estranha pessoa parou, indicou um homem que estava no topo do morro e regressou. O jovem ficou parado por um instante, um ligeiro momento de dúvida fez suas mãos suarem, mas logo David continuou sozinho até encontrar o homem que lhe fora indicado e este o perguntou:
— Quem é você? — o homem tinha uma expressão pacífica, forte e possuía um olhar penetrante.
— David. — respondeu o menino de olhos e cabelos castanhos.
— Quem o trouxe até aqui?
— Um homem encapuzado.
— “Um homem encapuzado?”
— Sim. Depois que saí do orfanato fui dormir na porta da igreja. Ele me encontrou lá, perguntou meu nome e me disse que eu era o escolhido. Para o quê eu não sei, mas falou que neste lugar eu encontraria a resposta.
— Hum... talvez tenha sido Parias ou Marcos. Mas Anthony... — hesitou o homem em continuar.
David estranhou a atitude do homem, mas logo perguntou:
— E você, quem é?
O homem se abaixou olhando fundo nos olhos de David e falou:
— Saiba que para encontrar a resposta para o que procura você terá que estudar seu corpo, quero dizer, terá que se tornar um guerreiro.
— “Um guerreiro?” Como assim? — interessou-se o menino.
— O mundo é dividido em dois tipos de seres: os anjos bons e os anjos maus. O dever de um guerreiro é impedir que os anjos maus influenciem os anjos bons.
— E os anjos maus não têm guerreiros? — perguntou David retribuindo o olhar penetrante.
— Sim, mas estes são chamados de feiticeiros.
— Mas... Para o quê eu sou escolhido?
— Ora, você foi escolhido para ser um guerreiro! — respondeu rindo.
— Mas por que eu? Por que sou um anjo bom?
— Também. Mas saiba que você tem um dom!
— Como assim?
— Você é o escolhido e é só o que precisa saber! — o homem se levantou. — Mas me diga, quer se tornar um guerreiro?
— Sim! — respondeu o garoto de imediato.
— Tudo bem. Meu nome é Otsugua, mas a partir de amanhã, quando iniciarmos as aulas, você deverá me chamar de Mestre. Não é fácil conseguir se tornar um guerreiro, são cinco anos de duras aulas, muitos não resistem... — Otsugua virou para trás e começou a caminhar, David o seguiu. — E, bem... morrem. A cidade é por ali, encontre uma garota chamada Naty, amanhã eu o acharei.
David parou de segui-lo e viu-o, aos poucos, desaparecendo. Ficou feliz de ter encontrado um novo amigo, embora que de uma maneira inusitada. Olhou para o local que seu futuro mestre apontara e seguiu nessa direção.
Desceu o enorme morro e deparou-se com uma cidade simples, pequena, mas muito bonita. Logo, se viu caminhando ao lado de pessoas estranhas que andavam devagar e conversavam uma com as outras.
— Como vou encontrar essa Naty? — perguntou-se.
Caminhou sem rumo pelas estreitas ruas da cidade. Ficou olhando as casas modestas, observou as vitrines das lojas, porém sua atenção voltou-se para um grupo de meninos que acabara de cercar uma garota ruiva. Desconfiado da ação dos garotos vestidos de preto, David se aproximou.
— O que querem idiotas? — perguntou a jovem magra e alta.
— Uma revanche! — respondeu o maior dos garotos.
— O quê? “Uma revanche?” Coitado...! — a ruiva começou a achar graça da situação.
De repente os cinco garotos a atacaram, David foi socorrê-la, mas não foi necessário, pois ela derrotou a todos com apenas um chute! A maneira que tudo ocorrera fora impressionante. A garota havia saltado chutando o primeiro garoto à sua esquerda que atingiu o outro e assim por diante. Quando a jovem completou os 360º, todos os meninos já estavam no chão.
— Corram! — gritou um dos garotos. — Naty, você ainda me paga!
Imóvel, David não acreditou no que acabara de ver. Passado o choque, ele foi em direção dela.
— Vo-você é Naty? — perguntou com receio.
— Sim, por quê?
— Otsugua me disse para te procurar...
— Você é um novo discípulo? — perguntou Naty cruzando os braços.
— Acho que sim. — respondeu David pensativo.
— Demorou para aparecer outro... — comentou a garota. — o último garoto, Jorge, morreu em dois anos e meio. Quanto tempo você deve suportar? Logo aviso que não quero ser sua amiga. Não quero ter que chorar se você morrer. Mas me diga quantos anos você tem?
— Onze.
— Muito novo! Tenho treze e lamento lhe dizer que não passará nem um ano aqui.
Naty o analisou de cima para baixo sem falar nada. Bufou e pediu para que a seguisse. Ambos jovens saíram da cidade e entraram em um local mais verde onde era comum encontrar árvores enormes, que diante daquele pequeno garoto chamado David, parecia tocar o céu.
Naty o levou para uma casa, assim como as outras, circular, com uma porta e duas janelas ao lado da mesma. Ela armou uma rede para David na sala, e lá o jovem dormira por muitos anos. Naquela cidade ele sofrera bastante com o árduo e perigoso treinamento. Ele, por mais ferido que estivesse, por mais cicatrizes que ganhasse, nunca pensou em desistir, nada o faria ouvir a voz de Naty dizendo: “Eu não lhe disse?” E assim foram seus últimos anos. O garoto vivia em um orfanato nas mediações da cidade de Theriston. No fundo, ele estava feliz, considerava aquelas pessoas sua família e isso era tudo o que ele sempre quisera, não importava como. Nunca David perdera o nascer do Sol. E hoje lá estava ele em um grande morro, vendo-o surgir entre as nuvens escuras e lembrando-se dos últimos cinco anos.
David olhou para o céu pensativo e preocupado. Até que Naty, vestindo como sempre uma calça preta, um vestido branco, uma jaqueta e um par de botas, aproximou-se dele, sentou-se ao seu lado e perguntou:
— Nervoso? Sei que está, eu também estive!
— Sério? — respondeu o garoto ironizando.
— Eu sempre tive medo por você. A cada dia que não desistia eu acreditava ainda mais no seu potencial, na sua força, no seu poder. Já faz cinco anos que você treina para se tornar um guerreiro e nunca pensou em desistir. Percebi que você era movido por algum sentimento. Desde o momento que lhe vi pela primeira vez, senti uma energia poderosa emanando dentro de seu coração e agora eu tenho certeza de que você é um escolhido! Perdoe-me por ter sido rude, mas só agora eu percebo — nesse momento a jovem olhou fixamente para David e segurou sua mão — que você é meu amigo, mesmo que eu não quisesse, mas na verdade eu sempre quis. Surpreso, David respondeu:
— E eu sempre soube que você era minha amiga. Ainda mais por não ter ido embora... Mesmo já tendo terminado seu treino há dois anos você está aqui... Esperando eu terminar.
Uma lágrima caiu de um dos olhos de Naty, os dois se abraçaram e assim permaneceram até David se levantar e descer o morro no qual, um dia, conhecera seu mestre.
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